"Dizem que o homem não nasce ruim, a sociedade que o corrompe. Se somos fruto da criação da sociedade, como ela pode ter o direito de julgar-nos se a culpa é parcialmente dela?" Tim Maia
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Trechos de alguns filmes sobre suicídio / Teen Suicide in Film History
http://www.youtube.com/watch?v=pkd9NqzysxU&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=JI_20NjOHfg&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=WEYFr1qZ5N8&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=L5q00HURtvA&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=rbtWG7maHyQ&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=kPGBu1Uf38g&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=O_9yuBTs0Js
http://www.youtube.com/watch?v=JI_20NjOHfg&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=WEYFr1qZ5N8&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=L5q00HURtvA&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=rbtWG7maHyQ&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=kPGBu1Uf38g&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=O_9yuBTs0Js
Direito ao suicídio
27 Janeiro, 2007
Direito ao suicídio
Postado por Leonardo Bernardes
Relembrei o tempo em que, num grupo de estudos, lia e examinava O mito de Sísifo, de Albert Camus, mediante uma matéria da Folha. Justiça alemã condena internauta por vender "pílulas de suicídio" pela web Não é o caso de anistiá-lo (o internauta); é improvável que a assistência venha acompanhada de uma avaliação clínica, ou mesmo de cuidado semelhante. Devemos, portanto, admitir, que há casos clínicos nos quais o desejo de morte constitui parte ou corolário de uma disfunção, de um distúrbio psicológico. Mas, por outro lado, a intervenção do Estado nesses casos é quase sempre arbitrária e injustificável. Isto porque julgo insustentável a afirmação que reconhece em todo desejo da morte uma desordem de alguma natureza. Seria o mesmo que dizer que o desejo pela vida, o desejo de viver, é parte inseparável de nossa constituição natural — uma asserção razoável se considerada sob o ponto de vista prático, mas que dificilmente encontraria amparo em algum mecanismo científico de verificação. Acredito que a decisão pela morte e a regularidade dos quadros de saúde mental e física podem coexistir. Nos animais, para os quais a vida está quase completamente inscrita nas determinações externas e orientações biológicas, poderíamos imaginar que uma ação semelhante fosse produto de uma desordem qualquer. A consciência instaura um elemento indispensável que não se dobra mesmo diante da força dos elementos presentes na constituição animal do homem. Lembremos Foucault: a psiquiatria instala-se no domínio da higiene pública quando consegue, ao mesmo tempo, horrizar através do relato de casos de crimes relativos aos doentes mentais e mostrar sua eficácia no tratamento desses pacientes — e por consequência, a ineficácia dos aparelhos convencionais de polícia, do aparelho carcerário e penal. Toda intervenção exige uma justificação sem a qual é inócua. A eficácia da psiquiatria produziu sua incorporação à máquina do Estado. Meter-se nos negócios de alguém que decida morrer só se justifica pela prévia desordem atribuída a quem quer que deseje realizar tal ato. Se não fosse esta uma decisão arbitrária seria permitido um exame parcial por meio do qual a sanidade mental seria avaliada e, em obtendo resultado negativo para insanidade ou qualquer outra disfunção que prive o sujeito de sua plena capacidade mental, a morte seria consentida. Mas não é o caso. O individuo livre é minuciosamente fragmentado em níveis psicológicos que, se não comprometem sua capacidade intelectual, obstruem por completo sua liberdade. Se a sanidade mental não é suficiente para conferir legitimidade a uma ação humana, que mais poderemos exigir? Será que aqueles que amam a vida não estão sujeitos as mesmas dificuldades dos que não mais a desejam? Ou é exclusividade dos suicidas a dificuldade de realizar o luto ou coisas semelhantes? Os desajustes passam a ser problemas do Estado apenas quando atingem um grau mais elevado de implicação? Poderíamos medir as consequências sociais acarretadas por aqueles que compartilham problemas semelhantes aos dos suicidas mas que não dividem com eles o desejo pela morte? Será que essas consequências não seriam mais duradouras e preocupantes para o Estado? O valor da vida, assim, universalmente estabelecido e indiretamente fixado nas instituições não se torna uma cristalização metafísica para a qual não encontramos amparo nem na ciência, nem na mercadologia que afere a conveniência das coisas, dos indivíduos, na estrutura de um Estado, de uma sociedade? A doutrina da vida parece, neste caso, uma excrescência das Teocracias incompatível com um Estado laico, como querem o Estado moderno. As liberdades individuais mostram-se incompatíveis com um policialmento que lhes tolha um direito básico — mais que um direito: a essencial relação entre corpo e mente, ainda que esta dicotomia seja questionável. Invasão que não é destinada nem aos mais cruéis criminosos. Se nos falta a estrutura para que nossa liberdade se realize como direito previsto e projetado nos pactos de civilização, que ao menos nos seja permitido gozar da direito inalienável de suprimir nossa própria existência. Do contrário, seremos forçados a levar Werther ao divã. E em breve o amor, ou qualquer outro sentimento que, por alguma infeliz fatalidade, possa produzir um desfalque que comprometa a engrenagem cega e furiosa da civilização
Doente mental deveria ter direito ao suicídio assistido, diz dono de clínica
sexta-feira, 16 de julho de 2010

Em rara entrevista, o advogado Ludwig Minelli (foto), dono da Dignitas, clínica suíça de suicídio assistido, defendeu o direto a esse tipo de morte aos doentes mentais crônicos, principalmente os esquizofrênicos, e não só aos pacientes terminais.
Para Minelli, trata-se de uma questão de direitos humanos. “A maioria dos portadores de doenças mentais tem discernimento para decidir dar um basta ao seu sofrimento”, disse.
Na Suíça, há outras clínicas de suicídio assistido, mas a Dignitas é a única que atende estrangeiros. De acordo com informação de fevereiro deste ano do jornal britânico Guardian, entre os inscritos na clínica havia cinco brasileiros.
Em 12 anos de existência, mais de mil pacientes terminais passaram pela clínica.
O médico Alois Geiger, que é colaborador da clínica, informou que a Dignitas atendeu em 2008 um espanhol de 39 anos que sofria de esquizofrenia e que já tinha tentado se matar oito vezes. “É uma doença horrível.”
Estima-se que a doença atinja 1% da população mundial. Existem diferentes graus de esquizofrenia, cujos portadores perdem contato com a realidade. Os principais sintomas são alucinações auditivas e visuais, delírios de paranoia.
Geiger contou que tem sido procurado por esquizofrênicos e a maioria deles não diz apenas que quer morrer, mas que “não aguenta mais viver esta vida”.
http://www.paulopes.com.br/2009/05/casos-de-suicidios.html
http://www.paulopes.com.br/2009/12/casos-de-transtornos-mentais.html

Em rara entrevista, o advogado Ludwig Minelli (foto), dono da Dignitas, clínica suíça de suicídio assistido, defendeu o direto a esse tipo de morte aos doentes mentais crônicos, principalmente os esquizofrênicos, e não só aos pacientes terminais.
Para Minelli, trata-se de uma questão de direitos humanos. “A maioria dos portadores de doenças mentais tem discernimento para decidir dar um basta ao seu sofrimento”, disse.
Na Suíça, há outras clínicas de suicídio assistido, mas a Dignitas é a única que atende estrangeiros. De acordo com informação de fevereiro deste ano do jornal britânico Guardian, entre os inscritos na clínica havia cinco brasileiros.
Em 12 anos de existência, mais de mil pacientes terminais passaram pela clínica.
O médico Alois Geiger, que é colaborador da clínica, informou que a Dignitas atendeu em 2008 um espanhol de 39 anos que sofria de esquizofrenia e que já tinha tentado se matar oito vezes. “É uma doença horrível.”
Estima-se que a doença atinja 1% da população mundial. Existem diferentes graus de esquizofrenia, cujos portadores perdem contato com a realidade. Os principais sintomas são alucinações auditivas e visuais, delírios de paranoia.
Geiger contou que tem sido procurado por esquizofrênicos e a maioria deles não diz apenas que quer morrer, mas que “não aguenta mais viver esta vida”.
http://www.paulopes.com.br/2009/05/casos-de-suicidios.html
http://www.paulopes.com.br/2009/12/casos-de-transtornos-mentais.html
José Saramago defende o direito ao suicídio em entrevista 09/11/2005 - 12h21
Lisboa, 9 nov (EFE) - O prêmio Nobel de Literatura José Saramago defendeu o direito de opção pelo suicídio, em entrevista publicada hoje no Diário de Notícias.
"Uma pessoa que se suicida usa um direito sobre sua própria vida. Ninguém pode lhe negar isso, seja qual for a autoridade que se oponha, civil ou religiosa", disse o escritor português.
Saramago questionou "em nome de quem a sociedade nega isso", já que "ninguém pode dizer não à eutanásia". O escritor apresenta em Lisboa na próxima sexta-feira seu último romance, "As intermitências da morte". O lançamento mundial da obra foi realizado no Brasil há uma semana.
Sobre "As intermitências da morte", contou que a idéia de escrever esse livro surgiu quando lia "Os cadernos de Malte Laurids Brigge", de Rainer Maria Rilke.
"São páginas extraordinárias e então me ocorreu a idéia", destacou, acrescentando que quando um livro fala da morte, parte-se da idéia de que é uma obra séria.
O escritor acha que passamos muito tempo pensando no que há depois da vida, enquanto deveríamos, na sua opinião, concentrar-nos no que acontece na vida comum.
Além disso, ressaltou que "As intermitências da morte" foi escrito com alegria, "uma alegria que não só vem do tom irônico, sarcástico às vezes, divertido".
Ele reconheceu que, aos 83 anos, conserva lucidez suficiente para saber que "sou realmente um velho, que se mantém e trabalha".
"Seria horrível se fôssemos imortais nesta vida. Com a morte, nos prometem a vida eterna em outra vida e a Igreja nos diz que contemplaremos o Senhor, e me parece que contemplar a cara do Senhor para toda a vida é um pouco forte", brincou.
O novo livro de Saramago também já está à venda em Portugal, Espanha, Chile, México, Colômbia e Argentina.
"Uma pessoa que se suicida usa um direito sobre sua própria vida. Ninguém pode lhe negar isso, seja qual for a autoridade que se oponha, civil ou religiosa", disse o escritor português.
Saramago questionou "em nome de quem a sociedade nega isso", já que "ninguém pode dizer não à eutanásia". O escritor apresenta em Lisboa na próxima sexta-feira seu último romance, "As intermitências da morte". O lançamento mundial da obra foi realizado no Brasil há uma semana.
Sobre "As intermitências da morte", contou que a idéia de escrever esse livro surgiu quando lia "Os cadernos de Malte Laurids Brigge", de Rainer Maria Rilke.
"São páginas extraordinárias e então me ocorreu a idéia", destacou, acrescentando que quando um livro fala da morte, parte-se da idéia de que é uma obra séria.
O escritor acha que passamos muito tempo pensando no que há depois da vida, enquanto deveríamos, na sua opinião, concentrar-nos no que acontece na vida comum.
Além disso, ressaltou que "As intermitências da morte" foi escrito com alegria, "uma alegria que não só vem do tom irônico, sarcástico às vezes, divertido".
Ele reconheceu que, aos 83 anos, conserva lucidez suficiente para saber que "sou realmente um velho, que se mantém e trabalha".
"Seria horrível se fôssemos imortais nesta vida. Com a morte, nos prometem a vida eterna em outra vida e a Igreja nos diz que contemplaremos o Senhor, e me parece que contemplar a cara do Senhor para toda a vida é um pouco forte", brincou.
O novo livro de Saramago também já está à venda em Portugal, Espanha, Chile, México, Colômbia e Argentina.
Are the Best Artists All Crazy?
Some artists, whether painters, writers or musicians, suffer from being labeled crazy artists. There is compelling evidence that some of the best artists do deserve the title, except the term "crazy" is generally more politely replaced with "mentally ill." There are numerous examples of “crazy artists” however, which do point to a large share of artists suffering from some form of mental illness.
Mental illness in "crazy artists" may create a number of factors that contribute to their artistic tendencies. The first of these is the polarizing effect on the artist. The artist who sees him or herself as "outside" of the general public because of a mental illness is likely to have a take on humanity quite different from the "inside" man or woman. In fact, being outside allows one to observe society as one might observe a society of birds for example. Core truths of the society can be exposed and thus resonate with, or irritate the public.
Additionally "crazy artists" have access, probably that they don’t want, to the excessive emotional content of their lives. This is very true of those with bipolar disorder or depression. Some cannot filter out the deep and foreboding emotions, causing great mental disturbance. Exposure to consistent emotional content can as well touch others listening to, observing or reading the art.
A few writers who could be termed "crazy artists" include Charles Dickens, Virginia Woolf, Leo Tolstoy, John Keats, Sylvia Plath, and Tennessee Williams. Many of these "crazy artists" fought tremendous battles with depression. Some like Plath committed suicide. Others who are potential candidates as "crazy artists" include the alcoholics and drug addicts, since it is now shown that many who have drug dependence are medicating to mask a mental disorder. These include writers like Samuel Taylor Coleridge, Wilkie Collins and Edgar Allan Poe.
Several visual artists have been surmised to have depression. This is certainly the case with Vincent Van Gogh, the poster child of "crazy artists." However, Michelangelo may also have been suffering from deep depression. Paul Gauguin can certainly be said to have been one of the "crazy artists" suffering a mid-life crisis, battling alcoholism and relocating to Tahiti to paint during the last few years of his life.
Great filmmakers have also been considered crazy artists, battling various forms of mental illnesses. Their ranks include Francis Ford Coppola and Rod Steiger. Further, actors and actresses have recently "come out" in proclaiming their status as "crazy artists." Patty Duke has been particularly effective in her advocacy for those with depression and bipolar disorder. Actresses like Vivien Leigh and Marilyn Monroe battled mental illness as well.
Music would not be the same without its contributing crazy artists. These names include: Mozart, Schubert, Rossini, Tchaikovsky, and Beethoven. Modern musicians like James Taylor have been relatively public about battling mental illness and drug addiction.
Perhaps the most illuminating work on the subject is the book The Dynamics of Creation by Anthony Storr. He refutes the idea that art springs from insanity but is instead a force of consolation to the artist. Another interesting take on the subject of "crazy artists" is the book The Key to Genius: Manic Depression and the Creative Life written by D. Jablow Hershman and Julian Lieb. This work analyzes how the manic depressive artist may achieve more recognition because in his/her manic states, production level increases dramatically.
Some worry, however, that insanity is a prerequisite of great art. This is clearly not the case, and there are many fabulous artists who were quite sane. Further, insanity does not translate to great art. However, interesting analyses have been made of art produced by people who are institutionalized.
Mental illness in "crazy artists" may create a number of factors that contribute to their artistic tendencies. The first of these is the polarizing effect on the artist. The artist who sees him or herself as "outside" of the general public because of a mental illness is likely to have a take on humanity quite different from the "inside" man or woman. In fact, being outside allows one to observe society as one might observe a society of birds for example. Core truths of the society can be exposed and thus resonate with, or irritate the public.
Additionally "crazy artists" have access, probably that they don’t want, to the excessive emotional content of their lives. This is very true of those with bipolar disorder or depression. Some cannot filter out the deep and foreboding emotions, causing great mental disturbance. Exposure to consistent emotional content can as well touch others listening to, observing or reading the art.
A few writers who could be termed "crazy artists" include Charles Dickens, Virginia Woolf, Leo Tolstoy, John Keats, Sylvia Plath, and Tennessee Williams. Many of these "crazy artists" fought tremendous battles with depression. Some like Plath committed suicide. Others who are potential candidates as "crazy artists" include the alcoholics and drug addicts, since it is now shown that many who have drug dependence are medicating to mask a mental disorder. These include writers like Samuel Taylor Coleridge, Wilkie Collins and Edgar Allan Poe.
Several visual artists have been surmised to have depression. This is certainly the case with Vincent Van Gogh, the poster child of "crazy artists." However, Michelangelo may also have been suffering from deep depression. Paul Gauguin can certainly be said to have been one of the "crazy artists" suffering a mid-life crisis, battling alcoholism and relocating to Tahiti to paint during the last few years of his life.
Great filmmakers have also been considered crazy artists, battling various forms of mental illnesses. Their ranks include Francis Ford Coppola and Rod Steiger. Further, actors and actresses have recently "come out" in proclaiming their status as "crazy artists." Patty Duke has been particularly effective in her advocacy for those with depression and bipolar disorder. Actresses like Vivien Leigh and Marilyn Monroe battled mental illness as well.
Music would not be the same without its contributing crazy artists. These names include: Mozart, Schubert, Rossini, Tchaikovsky, and Beethoven. Modern musicians like James Taylor have been relatively public about battling mental illness and drug addiction.
Perhaps the most illuminating work on the subject is the book The Dynamics of Creation by Anthony Storr. He refutes the idea that art springs from insanity but is instead a force of consolation to the artist. Another interesting take on the subject of "crazy artists" is the book The Key to Genius: Manic Depression and the Creative Life written by D. Jablow Hershman and Julian Lieb. This work analyzes how the manic depressive artist may achieve more recognition because in his/her manic states, production level increases dramatically.
Some worry, however, that insanity is a prerequisite of great art. This is clearly not the case, and there are many fabulous artists who were quite sane. Further, insanity does not translate to great art. However, interesting analyses have been made of art produced by people who are institutionalized.
Brittany Murphy May Have Committed Suicide
The tragic death of Brittany Murphy at the age of 32 may have been due to suicide, new reports are claiming.
As we reported earlier Murphy was found after a suspected cardiac arrest, however 32 year olds don’t usually keel over and die from a cardiac arrest unless there is a genetic disorder, or something else at play.
Reports of Murphy taking drugs have been circulating widely this year, and a drug overdose is a suspected cause of death. There was also news that she was fired from her latest movie two weeks; a blow that coincided with her husband being hospitalized Both may have driven her into depression, and subsequently drove her to commit suicide.
The LA Coroner will be performing an autopsy on Murphy this week to confirm the cause of the death.
Listen to the 911 call.
Sharon Murphy was not identified on the recording. But sources identified her and Monjack as the people who found Brittany Murphy unconscious.
On the recording, Sharon Murphy is asked if she thinks her daughter tried to commit suicide.
"I don't know if it's a suicide," she says. "Very often, her medications get all screwed up. It's probably because of that."
As we reported earlier Murphy was found after a suspected cardiac arrest, however 32 year olds don’t usually keel over and die from a cardiac arrest unless there is a genetic disorder, or something else at play.
Reports of Murphy taking drugs have been circulating widely this year, and a drug overdose is a suspected cause of death. There was also news that she was fired from her latest movie two weeks; a blow that coincided with her husband being hospitalized Both may have driven her into depression, and subsequently drove her to commit suicide.
The LA Coroner will be performing an autopsy on Murphy this week to confirm the cause of the death.
Listen to the 911 call.
Sharon Murphy was not identified on the recording. But sources identified her and Monjack as the people who found Brittany Murphy unconscious.
On the recording, Sharon Murphy is asked if she thinks her daughter tried to commit suicide.
"I don't know if it's a suicide," she says. "Very often, her medications get all screwed up. It's probably because of that."
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Oito crianças se suicidaram na Rússia desde o início de fevereiro
MOSCOU, 16 Fev 2012 (AFP) -Uma menina de 10 anos foi encontrada enforcada em um apartamento na república russa de Kalmukia (sul), anunciaram nesta quinta-feira as autoridades locais. Este é o oitavo caso de suicídio infantil na Rússia desde o início de fevereiro.
"Uma menina foi encontrada enforcada no dia 15 de fevereiro em um apartamento em Elista", declarou o comitê de investigação da região de Kalmukia, segundo a agência Interfax.
No mesmo dia, um adolescente de 16 anos morreu ao se jogar do 16º andar de um prédio no sudoeste de Moscou, de acordo com uma fonte da polícia russa.
Seis outros suicídios de jovens - dois meninos e quatro meninas - foram contabilizados na primeira quinzena de fevereiro no país, principalmente na região de Moscou, informou a Interfax.
A autoridade russa para os direitos da criança, Pavel Astakhov, pediu no dia 10 de fevereiro a implantação de um programa de prevenção do suicídio de menores.
Ele ressaltou que a Rússia é o primeiro país da Europa em termos de suicídio entre pessoas de 15 a 19 anos de idade. Astakhov acrescentou que 200 crianças de 10 a 14 anos se suicidam todos os anos, assim como 1.500 adolescentes de 15 a 19 anos.
A taxa de suicídio entre a população da Rússia foi de 23,5 para cada 100 mil em 2010, em queda em relação aos 42 por 100 mil registrados em 1995, segundo um relatório publicado em novembro pela Unicef e o ministério russo da Saúde.
O país é o sexto no ranking mundial, com um nível muito superior do que a média (14/100.000) e em um nível "crítico" definido pela Organização Mundial da Saúde (20/100.000).
"Uma menina foi encontrada enforcada no dia 15 de fevereiro em um apartamento em Elista", declarou o comitê de investigação da região de Kalmukia, segundo a agência Interfax.
No mesmo dia, um adolescente de 16 anos morreu ao se jogar do 16º andar de um prédio no sudoeste de Moscou, de acordo com uma fonte da polícia russa.
Seis outros suicídios de jovens - dois meninos e quatro meninas - foram contabilizados na primeira quinzena de fevereiro no país, principalmente na região de Moscou, informou a Interfax.
A autoridade russa para os direitos da criança, Pavel Astakhov, pediu no dia 10 de fevereiro a implantação de um programa de prevenção do suicídio de menores.
Ele ressaltou que a Rússia é o primeiro país da Europa em termos de suicídio entre pessoas de 15 a 19 anos de idade. Astakhov acrescentou que 200 crianças de 10 a 14 anos se suicidam todos os anos, assim como 1.500 adolescentes de 15 a 19 anos.
A taxa de suicídio entre a população da Rússia foi de 23,5 para cada 100 mil em 2010, em queda em relação aos 42 por 100 mil registrados em 1995, segundo um relatório publicado em novembro pela Unicef e o ministério russo da Saúde.
O país é o sexto no ranking mundial, com um nível muito superior do que a média (14/100.000) e em um nível "crítico" definido pela Organização Mundial da Saúde (20/100.000).
Morte por asfixia - A polícia investiga se o futuro médico psiquiatra cometeu suicídio ou se foi "vítima de fetiche erótico" (...)
Antidepressivos
Natural de Goiânia (GO), o jovem havia se formado em medicina e estava na capital paulista estudando para se tornar psiquiatra. A família do médico Alexandre Nery disse que ele usava antidepressivos e nega a possibilidade de suicídio.
http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/medico-encontrado-morto-e-enterrado-em-goias-20120224.html
http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/medico-pode-ter-morrido-apos-fetiche-sexual-20120224.html
Suicídio entre médicos e estudantes de medicina
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-42301998000200012&script=sci_arttext
Natural de Goiânia (GO), o jovem havia se formado em medicina e estava na capital paulista estudando para se tornar psiquiatra. A família do médico Alexandre Nery disse que ele usava antidepressivos e nega a possibilidade de suicídio.
http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/medico-encontrado-morto-e-enterrado-em-goias-20120224.html
http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/medico-pode-ter-morrido-apos-fetiche-sexual-20120224.html
Suicídio entre médicos e estudantes de medicina
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-42301998000200012&script=sci_arttext
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
O suicídio e as crendices
“A GENTE SOMOS INÚTIL”
Acho que não sou eu apenas, mas muitas outras pessoas estão fartas das opiniões ridiculamente tecidas por religiosos abobalhados com suas crendices de infância sobre o suicídio ou a morte. O que estas amebas acrescentam a este mundo ou à sua existência? Vaidades, ou seja, absolutamente nada. Observem! Idiotas conduzindo cegos [...] A maioria das pessoas não é boa em nada. Elas são movidas apenas pelo medo, alienadas em seus credos e neste sistema servil e só. Escravos de sempre de um mesmo sistema - as religiões, e homens e mulheres apenas como mercadorias, com o tempo pago que não se recupera nunca mais. E isto é constituído de um rito, de gente conformista que nunca diz ou faz nada significante ao seu redor, sobre a sociedade emporcalhada e doentia em que vivem. Elas ficam de olhos estatelados no “além túmulo” como uma criança que talvez seja recompensada pelo recreio depois de uma tarefa fútil. "Aprenderam" a opinar sobre coisas que nem elas mesmas sabem do que dizem, ficando só no “eu acho, eu penso, segundo coisa e tal”, arrogantemente como se elas entendessem da vida como ninguém. São ensinados desde cedo qualquer coisa que não seja belo. Como pode alguém querer ajudar alguém pelo medo, pela servidão ou mesquinhez, vendo o seu próprio mundo tão sórdido? Só mesmo um moralista cristão ou espírita, que imputam doutrinas impraticáveis e no fim das contas, quando a coisa aperta não passam de fujões.
As religiões com seus caprichos usurpam bilhões de dinheiro anualmente à custa de trouxas energúmenos, e a espiritualidade na maioria das vezes é igualmente uma mercadoria, tudo que compele esta mesma engrenagem corrosiva, bem como as instituições políticas, econômicas, especialização profissional e mão de obra barata, competitividade, classes sociais, valores familiares, tudo ao que se resume no sistema monetário, ou seja, no inferno nosso de cada dia que nós mesmos rezamos para que aconteça. Ainda somos na maioria os mesmos do passado, primitivos.
Acho que não sou eu apenas, mas muitas outras pessoas estão fartas das opiniões ridiculamente tecidas por religiosos abobalhados com suas crendices de infância sobre o suicídio ou a morte. O que estas amebas acrescentam a este mundo ou à sua existência? Vaidades, ou seja, absolutamente nada. Observem! Idiotas conduzindo cegos [...] A maioria das pessoas não é boa em nada. Elas são movidas apenas pelo medo, alienadas em seus credos e neste sistema servil e só. Escravos de sempre de um mesmo sistema - as religiões, e homens e mulheres apenas como mercadorias, com o tempo pago que não se recupera nunca mais. E isto é constituído de um rito, de gente conformista que nunca diz ou faz nada significante ao seu redor, sobre a sociedade emporcalhada e doentia em que vivem. Elas ficam de olhos estatelados no “além túmulo” como uma criança que talvez seja recompensada pelo recreio depois de uma tarefa fútil. "Aprenderam" a opinar sobre coisas que nem elas mesmas sabem do que dizem, ficando só no “eu acho, eu penso, segundo coisa e tal”, arrogantemente como se elas entendessem da vida como ninguém. São ensinados desde cedo qualquer coisa que não seja belo. Como pode alguém querer ajudar alguém pelo medo, pela servidão ou mesquinhez, vendo o seu próprio mundo tão sórdido? Só mesmo um moralista cristão ou espírita, que imputam doutrinas impraticáveis e no fim das contas, quando a coisa aperta não passam de fujões.
As religiões com seus caprichos usurpam bilhões de dinheiro anualmente à custa de trouxas energúmenos, e a espiritualidade na maioria das vezes é igualmente uma mercadoria, tudo que compele esta mesma engrenagem corrosiva, bem como as instituições políticas, econômicas, especialização profissional e mão de obra barata, competitividade, classes sociais, valores familiares, tudo ao que se resume no sistema monetário, ou seja, no inferno nosso de cada dia que nós mesmos rezamos para que aconteça. Ainda somos na maioria os mesmos do passado, primitivos.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Por que uma pessoa se mata?
Por que uma pessoa se mata?
Será que a morte é o passaporte para essa nova vida?
por Maria Fernanda Vomero
A cada 40 segundos alguém se suicida em algum lugar do mundo. Uma das principais causas de morte entre os humanos, o suicídio estarrece, incomoda, silencia. Entenda o que gera o comportamento suicida e como esse gesto externo pode ser evitado
O desespero beira o insuportável. A cada dia, o sofrimento – físico ou emocional – fica mais intenso e viver torna-se um fardo pesado e angustiante. Sua dor parece incomunicável; por mais que você tente expressar a tristeza que sente, ninguém parece escutá-lo ou compreendê-lo. A vida perde o sentido. O mundo ao seu redor fica insosso. Você sonha com a possibilidade de fechar os olhos e acordar num mundo totalmente diferente, no qual suas necessidades sejam saciadas e você se sinta outro. Será que a morte é o passaporte para essa nova vida?
Atire a primeira pedra quem nunca pensou em morrer para escapar de uma sensação de dor ou de impotência extremas. Parece comum ao ser humano experimentar, pelo menos uma vez na vida, um momento de profundo desespero e de grande falta de esperança. Os adjetivos são mesmo esses: extremo, insuportável, profundo. Mas, aos poucos, os seus sentimentos e idéias se reorganizam. Suas experiências cotidianas passam a fazer sentido novamente e você consegue restabelecer a confiança em si mesmo. Você descobre uma saída, procura apoio, encontra compreensão. Aquele desejo autodestrutivo, aquela vontade de resolver todos os problemas num golpe só, se dilui. E você segue adiante. Muitos, no entanto, não conseguem encontrar uma alternativa. O suicídio, para esses, parece ser a última cartada, o xeque-mate contra o sofrimento, um gran finale para uma vida aparentemente sem sentido, para um presente pesado demais ou para um futuro por demais amedrontador. E eles se matam.
Imperscrutável, no limite, o suicídio não tem explicações objetivas. Agride, estarrece, silencia. Continua sendo tabu, motivo de vergonha ou de condenação, sinônimo de loucura, assunto proibido na conversa com filhos, pais, amigos e até mesmo com o terapeuta. Mas as estatísticas mostram que o suicídio precisa, sim, ser discutido. Trata-se, além de uma expressão inequívoca de sofrimento individual, de um sério problema de saúde pública. Segundo o mais recente relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 815 mil pessoas se mataram no ano 2000 em todo o mundo – uma taxa de 14,5 para cada 100 mil habitantes. Isso significa um suicídio a cada 40 segundos. A “violência autodirigida”, como o suicídio é classificado pela OMS, é hoje a 14ª causa de morte no mundo inteiro. E a terceira entre pessoas de 15 a 44 anos, de ambos os sexos. Não pode mais ser ignorada.
Casos de suicídio muitas vezes são deliberadamente mascarados nas estatísticas oficiais. Suicídios de crianças tidos como morte acidental ou acidentes de automóvel, causados por jovens que dirigem alcoolizados e em alta velocidade: para os especialistas, esses são, sim, atos suicidas. “Se você investigar a vida dessas crianças e jovens semanas ou meses antes da morte, pode identificar sinais de que algo não ia bem”, diz a psicóloga Ingrid Esslinger, do Laboratório de Estudos sobre a Morte da Universidade de São Paulo (USP). A poeta americana Sylvia Plath (1932-1963) tentou se matar duas vezes antes de concretizar o suicídio (tais experiências levaram-na a escrever o romance A Redoma de Vidro). Uma das vezes foi um “acidente de carro”. Aparentemente, Sylvia perdera os sentidos no volante e deixara o carro sair da estrada e ir ao encontro de um aeródromo. Segundo o crítico literário Alfred Alvarez, amigo da poeta, a própria Sylvia admitiu que saíra intencionalmente da estrada, com o objetivo de morrer.
“Todos já pensamos em suicídio em algum momento na vida. É um pensamento humano. Se não desejamos nos matar, ao menos cogitamos morrer – morrer para escapar do sofrimento, para nos vingar, para chamar a atenção ou para ficar na história”, diz o psiquiatra e psicanalista Roosevelt Smeke Cassorla, da Sociedade Brasileira de Psicanálise, um dos maiores especialistas brasileiros em suicídio. “Mas resolvemos continuar vivos e melhorar as nossas condições de vida. O suicídio, então, soa como um desatino. A pergunta que fica é: por que algumas pessoas desistem e outras não?”
Por trás do comportamento suicida há uma combinação de fatores biológicos, emocionais, socioculturais, filosóficos e até religiosos que, embaralhados, culminam numa manifestação exacerbada contra si mesmo. Para decifrá-los, os estudiosos recorrem à “autópsia psicológica”, um procedimento que tem por finalidade reconstruir a biografia da pessoa falecida por meio de entrevistas e, assim, delinear as características psicossociais que a levaram à morte violenta.
“Existem causas imediatas predisponentes – como perda do emprego, fracasso amoroso, morte de um ente querido ou falência financeira – que agem como o último empurrão para o suicídio”, diz a psicóloga Blanca Guevara Werlang, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), especialista em autópsia psicológica. “A análise das características psicossociais do indivíduo, porém, revela os motivos que, ao longo da vida, o auxiliaram a estruturar o comportamento suicida. Pode mostrar as razões para morrer que estavam enraizadas no estilo de vida e na personalidade.”
Fenômeno complexo, o suicídio configura um assassinato, em que vítima e agressor são a mesma pessoa. “A definição de suicídio implica necessariamente um desejo consciente de morrer e a noção clara de que o ato executado pode resultar nisso. Caso contrário, é considerado morte por acidente ou negligência”, diz o psiquiatra José Manoel Bertolote, líder da Equipe de Controle de Transtornos Mentais e Cerebrais do Departamento de Saúde Mental e Toxicomanias da OMS.
O fato de estar consciente de que vai efetuar um ato suicida não elimina, no entanto, o estado de confusão mental que o indivíduo experimenta momentos antes da ação. “Ele não sabe se quer morrer ou viver, se quer dormir ou ficar acordado, fugir da dor, agredir outra pessoa ou, de fato, encontrar o mundo com o qual fantasia”, diz Roosevelt. Afinal, o suicida tem diante de si duas iniciativas complexas e contraditórias a conciliar naquele momento: tirar a vida e morrer. O suicídio ocorreria, então, num instante em que a pessoa se encontra quase fora de si, fragmentada, com os mecanismos de defesa do ego abalados e, por isso, “livre” para atacar a si mesma.
Há suicídios e suicídios. Por isso, os especialistas costumam avaliar a tentativa de se matar ou o ato propriamente dito a partir de duas variáveis: a intencionalidade e a letalidade. A primeira diz respeito à consciência e à voluntariedade no planejamento e na preparação do ato suicida. A segunda, ao grau de prejuízo físico que a pessoa se inflige. Existem casos em que o indivíduo demonstra evidente intenção de morrer e alto grau de letalidade, ao optar por um método eficiente. Em outras ocorrências, a vontade de morrer é fraca, apesar de voluntária, e o método escolhido é pouco prejudicial. Ou seja: há casos de suicidas propriamente ditos. E há casos em que a pessoa só está pedindo socorro, implorando para ser resgatada. Claro que há quem não queira enfaticamente a morte mas, por usar um meio perigoso, acabe sendo bem-sucedido.
E outros, cujo objetivo é mesmo acabar com a própria vida, por desconhecimento da maneira mais efetiva de causar danos graves a si mesmos, acabam sobrevivendo. (Aliás, esses, se não receberem tratamento adequado, são candidatos a uma nova tentativa.)
Estudos de autópsia psicológica (feitos com base em entrevistas com amigos, familiares e médicos do suicida) mostram que mais de 90% das pessoas que se mataram no mundo tinham alguma doença mental. Entretanto, doenças psiquiátricas não são condição suficiente para o comportamento suicida, já que outros fatores – emocionais, socioculturais e filosóficos – também entram em jogo. Na verdade, essas doenças provocam uma vulnerabilidade maior ao suicídio. “É comum que a pessoa, quando está com depressão, tenha pensamentos pessimistas, ache que a vida não vale a pena e que talvez fosse melhor morrer”, diz o psiquiatra Humberto Corrêa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Mas a maioria dos deprimidos não tentará se matar. Somente os mais impulsivos e agressivos procuram o suicídio.”
Hoje, sabe-se que indivíduos com alteração no metabolismo da serotonina – um dos mensageiros químicos mais importantes do nosso cérebro – apresentam maior risco de suicídio que os demais. Em sua pesquisa sobre a genética do comportamento suicida, Humberto analisou pacientes com depressão e esquizofrenia e constatou que todos aqueles que haviam tentado se matar tinham a chamada função serotoninérgica diminuída. (Ou seja, problemas no conjunto das etapas que envolvem a participação da serotonina: sua síntese, sua ligação com os receptores celulares e seu transporte. Se há falha em alguma etapa, a atuação desse neurotransmissor se reduz.)
“Quanto maior a intencionalidade suicida e mais letal o método usado, menor a função cerebral da serotonina”, diz Humberto. O próximo passo é pesquisar que genes ligados ao funcionamento da serotonina – são mais de 20 – poderiam estar mais associados ao comportamento suicida. Diversos grupos internacionais dedicam-se a estudos desse tipo. O psiquiatra Pavel Hrdina, diretor do Laboratório de Neurofarmacologia da Universidade de Ottawa, Canadá, descobriu que pacientes depressivos portadores de uma mutação no gene responsável por codificar um dos receptores da serotonina apresentavam duas vezes mais chances de cometer suicídio que aqueles sem a mutação. “A alteração nesse gene aumenta o risco de ideação suicida e de tentativas de autodestruição em casos de depressão grave”, diz Hrdina. Os cientistas tentam agora entender a relação direta entre a serotonina e o suicídio.
“Há uma forte evidência de que a serotonina inibe o comportamento violento, agressivo e impulsivo. Mas o que sabemos sobre a ligação entre esses comportamentos e o suicídio?”, escreve a psiquiatra americana Kay Redfield Jamison, portadora de depressão bipolar, familiarizada com a ideação suicida (ela mesma já tentou se matar) e autora do livro Quando a Noite Cai. “Embora muitos pacientes tenham planos bem formulados para o suicídio, a cronometragem definitiva e a decisão final para a ação costumam ser determinadas por impulso.” Portanto, os fatores biológicos são particularmente importantes para a decisão sobre quando apertar o botão “morrer”.
A participação genética no suicídio vem sendo pesquisada desde a década de 1920. Um estudo feito na Dinamarca mostrou que os parentes biológicos de pessoas que foram adotadas quando recém-nascidas e que se suicidaram posteriormente tinham taxas de suicídio significativamente maiores que as observadas entre os parentes adotivos. Entre gêmeos idênticos, de acordo com uma pesquisa americana, a possibilidade de um irmão se matar caso o outro já tenha se suicidado gira em torno de 15%. Para os gêmeos não-idênticos, a taxa cai para 2% ou 3%.
Tal componente genético poderia explicar, em parte, os casos de suicídio numa mesma família. Filhos de pais depressivos teriam uma predisposição maior à doença. Por isso, muitos especialistas incluem os parentes de um suicida no grupo de risco. Mas, no caso de padrão familiar para o suicídio, não só a genética pode exercer influência sobre o comportamento, mas também o modelo presente naquele núcleo social. Filhos podem se inspirar na solução que pais suicidas encontraram, por exemplo, de usar a morte como saída para um conflito.
“O suicídio é um ato de linguagem, de comunicação. Como vivemos numa rede de relacionamentos, a nossa morte significa algo para as outras pessoas”, diz a psicóloga Maria Luiza Dias Garcia, coordenadora da Clínica de Psicoterapia Laços, em São Paulo, que analisou mensagens (bilhetes, cartas, gravações) deixadas por suicidas no livro Suicídio – Testemunhos do Adeus. “Constatei, pelos discursos, que o suicida está num quadro de embotamento, como se estivesse afogado nas próprias emoções. Ele não aproveita os vínculos sociais para partilhar seus sentimentos e vê o mundo de uma maneira muito própria.” O suicídio, então, torna-se um meio de expressão, uma fala que não pôde ser dita.
Os especialistas costumam diferenciar as tentativas de suicídio do ato em si, uma vez que, de acordo com a intencionalidade e a letalidade, o gesto pode assumir sentidos diferentes. As tentativas de se matar são vistas como um grito por ajuda, sintoma de uma falha tanto no sistema familiar quanto no grupo social. “O indivíduo não consegue pedir socorro de outro modo, então opta por um ato extremo”, diz a psicóloga Denise Gimenez Ramos, da PUC de São Paulo. “Por que ele não foi ouvido? Todos dão conselhos, mas ninguém ouve o que ele tem a dizer. Esse indivíduo, portanto, fica com a impressão de que não existe para o mundo.”
Incapazes de comunicar a própria dor, os suicidas recorrem a algumas fantasias para justificar a si mesmos a autodestruição. A busca de uma outra vida é uma das mais comuns. O indivíduo enxerga no suicídio a oportunidade de interromper uma existência infeliz e recomeçar, com uma nova chance para acertar. Matar-se também pode ser um jeito de acelerar o reencontro com pessoas queridas já mortas – o pai, a avó, um amigo, o cônjuge. Outras fantasias comuns acerca do suicídio: gesto de vingança ou rebeldia, castigo e autopenitência. “A idéia da não-existência é tão insuportável que a mente humana inevitavelmente recorre às fantasias para levar adiante o projeto de auto-aniquilamento”, diz Roosevelt Cassorla. Mas o indivíduo nem sempre tem acesso consciente a essas fantasias.
O psicólogo Valdemar Angerami-Camon, do Centro de Psicoterapia Existencial, chefiou por quatro anos o Serviço de Atendimento aos Casos de Urgência e Suicídio da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e constatou como tais fantasias estão presentes na mente daqueles que querem se matar. “O que me impressionava eram as pessoas que tentavam suicídio dizerem que não queriam morrer”, diz Valdemar. “Como alguém tenta o suicídio e diz que não quer morrer? Na verdade, queriam acabar com uma situação de desespero. Como não conseguiam ver outra alternativa, recorriam ao suicídio. Mas, ao depararem com a possibilidade concreta da morte, percebiam que não queriam, de fato, morrer.”
O psiquiatra Claudemir Rapeli, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor de dois extensos trabalhos sobre suicídio, também constatou esse sentimento em boa parte dos suicidas que atendeu no Hospital das Clínicas de Campinas. “O arrependimento é imediato. Reconhecem que foi uma atitude impulsiva, desesperada, ansiosa.” Claudemir conta a história de um rapaz de 18 anos que tentou suicídio tomando um agrotóxico letal. (A substância provoca, em algumas semanas, uma espécie de fibrose pulmonar que impede a respiração normal e o indivíduo morre sufocado.) “Quando ele começou a sentir que não ia melhorar, que os médicos não podiam fazer mais nada, o pânico dele foi comovente”, afirma. “A motivação foi banal – uma briga com a namorada por achar que ela o estava traindo. Tomou o veneno para livrar-se da rejeição, mas não queria a morte. Ele pedia a todos os médicos que não o deixassem morrer.”
Você pode argumentar que muita gente se vê em situações de grande desespero ou solidão existencial e, mesmo assim, não busca o suicídio. O que faz a diferença? Na verdade, não existe uma personalidade suicida – existe, sim, uma vulnerabilidade emocional (que pode ser trabalhada com o apoio de um parente, um psicoterapeuta ou um amigo). “Quem tem uma estrutura de ego frágil pode não suportar uma grande perda ou um momento de crise e, num impulso, acaba cometendo o suicídio”, diz Ingrid Esslinger. O ego se constitui a partir dos primeiros vínculos afetivos, do modo com que o bebê foi cuidado pelas figuras de apego e da educação que a criança recebeu. Um ego fraco não tolera a frustração, não tem capacidade de espera, não suporta lidar com a impotência, com os limites e com os “nãos” que a vida impõe.
As taxas mais altas vêm de países “ateus”, que compunham o antigo bloco comunista: Lituânia, Letônia, Estônia, Rússia, Cuba e China. A religião aparece, portanto, como um mecanismo de “proteção” contra o comportamento suicida (todas as crenças religiosas condenam, em maior ou menor grau, o suicídio).
Combinada a outras influências, a religião pode ser também fator de estímulo para os “suicídios altruístas ou heróicos”, na definição de Durkheim. Cada membro do grupo está disposto a sacrificar a sua vida em prol das crenças. “Os casos mais recentes são os dos homens-bomba entre os palestinos e dos suicidas de 11 de setembro, relacionados a situações políticas muito específicas e à crença religiosa islâmica”, afirma Maria Cecília de Souza Minayo, doutora em Saúde Pública e professora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
Embora as mulheres sejam mais propícias a ter pensamentos suicidas que os homens, as taxas de suicídio masculino são mais elevadas. E os métodos que eles usam são mais definitivos e violentos, como uso de arma de fogo e enforcamento. Em média, ocorrem cerca de três suicídios masculinos para um feminino – com exceção de algumas regiões da Ásia, em especial na China, onde o número de mulheres que se matam supera o de homens e há mais casos no meio rural que nas cidades –, o que também contraria o padrão mundial.
Cada sociedade tem uma taxa mais ou menos constante de suicídios. No caso do Brasil, a média é de 4,5 suicídios por 100 mil habitantes nos últimos 20 anos. Número relativamente baixo, se comparado à taxa da Finlândia, por exemplo, que é de 23,4 casos em 100 mil pessoas. As taxas brasileiras de suicídio se elevam conforme a idade dos indivíduos, até atingir sua máxima expressão na faixa de 70 anos ou mais, quando chegam a 7,3 suicídios em 100 mil habitantes. Dentro de um país, o Brasil ou outro, as taxas mais altas vêm da comunidade indígena e dos imigrantes, principalmente dos núcleos que perderam muito da sua identidade cultural. Segundo a OMS, há fatores que claramente aumentam a probabilidade de suicídio no grupo social. Taxas de suicídio são altas durante épocas de recessão econômica e de forte desemprego. Também se elevam em períodos de desintegração social e instabilidade política.
“A adolescência e a velhice são os dois momentos mais propícios tanto para a ideação e as tentativas de suicídio quanto para concretização do ato, por razões diferentes”, diz Cecília. Na velhice, os motivos com freqüência se devem à depressão, a sentimentos de rejeição e abandono e à dificuldade de aceitar certas enfermidades dolorosas e incapacitantes, como o câncer. “Na adolescência, os problemas de conflito familiar, de dificuldades de identificação, os sentimentos de perda ou de inferioridade, a baixa auto-estima, em casos específicos de personalidades com tendências depressivas e de isolamento, podem se associar e resultar em tentativas ou em atos de suicídio”, afirma ela.
O cansaço existencial e as crises constantes também alimentam o desejo de morrer.
Uma reflexão filosófica mais profunda da contemporaneidade revela que a vida não é mais considerada um valor – pois, diante da moderna sociedade de consumo, perdeu gravemente o caráter sagrado – e, por isso, o suicídio também foi banalizado. Tornou-se alternativa descartável. “Já não representa mais um ato de contestação ou um ato exemplar nem parece resultado de uma dor psíquica insuportável, como foi no passado. O significado do suicídio também se perde nessa tendência ao não-pensamento que assola o mundo contemporâneo”, diz a filósofa Olgária Mattos, também da USP. A sociedade de consumo é falsamente hedonista: promete gratificação imediata e, ao mesmo tempo, frustra as próprias perspectivas que oferece. O suicídio seria também uma conseqüência dessa impulsividade: uma reação às promessas não cumpridas de felicidade e satisfação instantâneas e à decepção que daí decorre. “O suicídio, hoje, vem da dificuldade de entrar em contato consigo mesmo.
O autoconhecimento dá trabalho, exige empenho e tolerância à frustração”, diz Olgária.
A pergunta fundamental de Camus continua a nos martelar. “O suicídio agride porque nos diz o tempo inteiro da nossa possibilidade de escolha. Porque, se o outro faz isso, eu também posso ter essa escolha. Porque eu terei de me haver com o meu próprio potencial suicida, ou com o meu próprio desejo de morte”, diz Ingrid Esslinger.
Levado às últimas conseqüências, o suicídio também pode parecer um ato de afronta a Deus. “Tirar a própria vida dá, ao indivíduo, a sensação de fazer algo que é divino e entrar em contato com o mistério”, afirma Denise Ramos. “O suicida passa da extrema impotência – não posso mudar nada – à extrema potência – acabo com a minha vida quando e como eu quero. Nesse momento, em sua fantasia, se iguala a Deus por provocar também um ato que vai além da natureza humana.”
Para o teólogo e filósofo Renold Blank, da Pontifícia Faculdade de Teologia de São Paulo, tal atitude de achar-se o único responsável pela própria vida ultrapassa os limites éticos. “Do ponto de vista ético, a vida de cada ser humano tem sentido não só para si mesmo mas para os outros também”, diz ele. “Por meio da minha vida, dou sentido à vida dos outros e, assim, a minha existência ganha significado. Se acabo com a minha vida, acabo com todas as possibilidades de dar sentido à vida de outras pessoas. Falho em minha responsabilidade com os demais.” As ações de cada indivíduo repercutem no grande sistema de relações sociais e ganham uma dimensão histórica – o que é feito hoje, mesmo em âmbito pessoal, tem sempre uma conseqüência futura. O suicídio funciona, então, como uma brusca ruptura dessa rede.
“O suicídio é um ato privado que não representa somente uma violência contra si mesmo mas também contra mais, pelo menos, seis pessoas. Elas são forçadas a conviver com os sentimentos de vingança, vergonha, culpa, sofrimento psicológico, medo de enlouquecer e de também cometer o suicídio”, afirma o suicidologista australiano Diego De Leo, diretor da Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP, na sigla em inglês), organização não-governamental que reúne profissionais e entidades envolvidas no estudo do comportamento suicida.
No núcleo familiar e comunitário, a melhor prevenção é falar sem temores sobre suicídio e saber identificar os pedidos de socorro das pessoas próximas. “Ninguém precisa dar uma solução para os problemas do outro, deve apenas aprender a ouvir. As pessoas encontram as soluções dentro de si quando conversam e refletem sobre seus conflitos e emoções”, diz Denise.
Apostando nessa fórmula, existe o serviço de prevenção ao suicídio do Centro de Valorização da Vida (CVV), uma entidade não-governamental de atendimento humanitário criada há 40 anos e presente em todo o Brasil. O CVV segue os moldes dos Samaritanos, de Londres, uma entidade fundada no início dos anos 1950 para atender pessoas angustiadas que precisavam de apoio psicológico. Todos os voluntários são treinados para ouvir seus interlocutores (por telefone, carta, e-mail ou pessoalmente) sem nenhum tipo de julgamento e respeitar sua decisão, mesmo que seja a de cometer o suicídio. “Respeitamos o sofrimento de quem nos telefona. Ele tem a liberdade de falar sobre o que quiser durante o tempo que for necessário”, conta Adriana, voluntária do Posto da Vila Carrão, em São Paulo, e assessora de comunicação do CVV. “Estamos disponíveis para ouvir o que cada um tem a dizer sobre seus medos, dificuldades e angústias e ajudar a revalorizar a própria vida.”
O serviço atende, em média, 1 milhão de ligações por ano. Isso revela a necessidade que as pessoas têm de falar sobre seus conflitos. Quando o assunto é suicídio, abrir-se pode ser terapêutico.
A experiência do CVV, dos Samaritanos e de outros programas semelhantes demonstra que o primeiro passo para evitar o suicídio está no resgate do sentido da existência. “O que motiva o suicida é a falsa idéia de que sua vida não tem mais valor nem para si mesmo nem para os outros”, diz Renold Blank. O verdadeiro desafio parece fazer com que as pessoas percebam que sempre existe saída, não importa a situação. Que há como se reinventar e trabalhar em si mesmo aspectos de que gosta menos. Que nossa vida é importante para os outros também. E que sempre há alternativa, mesmo que, a princípio, seja dolorida. Afinal, a única coisa para a qual não há remédio é a morte.
Os intertítulos e os bilhetes desta reportagem são de mensagens de pessoas que se suicidaram.
Me senti muito culpado, foi inevitável. Pensei que talvez pudesse ter feito alguma coisa. O suicídio é uma violência muito grande. Parece uma bomba, uma explosão. Era meu irmão mais velho. Acho que ele nunca desejou alguma coisa com empenho. Tudo, para ele, tanto fazia, qualquer coisa estava bem. Era uma situação crônica. Ele entrou em várias faculdades e não terminou de cursar nenhuma. Tentou vários empregos, mas saiu de todos eles. Foi casado, separou-se, tinha uma namorada. Aparentemente sua vida estava estruturada. E ele não era depressivo. Talvez não estivesse vendo perspectivas. As razões do suicídio são um mistério. Pensei muito em quais teriam sido os motivos. Só relaxei quando assumi que não podia entendê-los. No enterro, senti uma raiva muito, muito grande. Naquele instante, experimentei uma profunda sensação de abandono. Nunca tinha sentido isso antes. Meu irmão foi enterrado no mesmo túmulo onde já estavam os meus pais.
Fiquei sozinho. Tenho muita vontade de viver. Acho que é uma espécie de resistência – gosto de festas, brigo pela vida, vivo intensamente, tenho amigos, curto meu trabalho, sou afetivo... Sempre fui assim, mas o suicídio me fez ver de maneira mais consciente que a vida é uma só. Não sou nada religioso, mas acho que todos nascemos para ser felizes, para desfrutar.
Pensei muito nisso, logo depois do suicídio. Um dia, fiquei parado uns 15 minutos diante de uma avenida onde os carros vinham em alta velocidade e não havia faixa de pedestres. Era só um passo, tão fácil, e tudo se acabaria. Depois, ao visitar um novo apartamento, também contemplei a janela demoradamente... Num ato poderia resolver tudo, todos os meus problemas. Mas prefiro os meios mais difíceis. Não acredito em outra maneira.”
E.S., médico e professor universitário, 45 anos
Kay Redfield Jamison. Gryphus, Rio de Janeiro, 2002
Suicídio, Testemunhos do Adeus
Maria Luiza Dias. Brasiliense, São Paulo, 1991
O Deus Selvagem – Um Estudo do Suicídio
A. Alvarez. Companhia das Letras, São Paulo, 1999
O Que é Suicídio
Roosevelt M.S. Cassorla. Brasiliense, São Paulo, 1985
Do Suicídio – Estudos Brasileiros
Roosevelt M.S. Cassorla (org.). Papirus, Campinas, 1998
Suicide and the Unconscious
Antoon Leenaars and David Lesters (ed.).
Jason Aroson, Estados Unidos, 1996
Dicionário de Suicidas Ilustres
J. Toledo. Record, Rio de Janeiro, 1999
O Suicídio: Um Estudo Sociológico
Émile Durkheim. Zahar, Rio de Janeiro, 1982
www.who.int/mental_health
O desespero beira o insuportável. A cada dia, o sofrimento – físico ou emocional – fica mais intenso e viver torna-se um fardo pesado e angustiante. Sua dor parece incomunicável; por mais que você tente expressar a tristeza que sente, ninguém parece escutá-lo ou compreendê-lo. A vida perde o sentido. O mundo ao seu redor fica insosso. Você sonha com a possibilidade de fechar os olhos e acordar num mundo totalmente diferente, no qual suas necessidades sejam saciadas e você se sinta outro. Será que a morte é o passaporte para essa nova vida?
Atire a primeira pedra quem nunca pensou em morrer para escapar de uma sensação de dor ou de impotência extremas. Parece comum ao ser humano experimentar, pelo menos uma vez na vida, um momento de profundo desespero e de grande falta de esperança. Os adjetivos são mesmo esses: extremo, insuportável, profundo. Mas, aos poucos, os seus sentimentos e idéias se reorganizam. Suas experiências cotidianas passam a fazer sentido novamente e você consegue restabelecer a confiança em si mesmo. Você descobre uma saída, procura apoio, encontra compreensão. Aquele desejo autodestrutivo, aquela vontade de resolver todos os problemas num golpe só, se dilui. E você segue adiante. Muitos, no entanto, não conseguem encontrar uma alternativa. O suicídio, para esses, parece ser a última cartada, o xeque-mate contra o sofrimento, um gran finale para uma vida aparentemente sem sentido, para um presente pesado demais ou para um futuro por demais amedrontador. E eles se matam.
Imperscrutável, no limite, o suicídio não tem explicações objetivas. Agride, estarrece, silencia. Continua sendo tabu, motivo de vergonha ou de condenação, sinônimo de loucura, assunto proibido na conversa com filhos, pais, amigos e até mesmo com o terapeuta. Mas as estatísticas mostram que o suicídio precisa, sim, ser discutido. Trata-se, além de uma expressão inequívoca de sofrimento individual, de um sério problema de saúde pública. Segundo o mais recente relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 815 mil pessoas se mataram no ano 2000 em todo o mundo – uma taxa de 14,5 para cada 100 mil habitantes. Isso significa um suicídio a cada 40 segundos. A “violência autodirigida”, como o suicídio é classificado pela OMS, é hoje a 14ª causa de morte no mundo inteiro. E a terceira entre pessoas de 15 a 44 anos, de ambos os sexos. Não pode mais ser ignorada.
Casos de suicídio muitas vezes são deliberadamente mascarados nas estatísticas oficiais. Suicídios de crianças tidos como morte acidental ou acidentes de automóvel, causados por jovens que dirigem alcoolizados e em alta velocidade: para os especialistas, esses são, sim, atos suicidas. “Se você investigar a vida dessas crianças e jovens semanas ou meses antes da morte, pode identificar sinais de que algo não ia bem”, diz a psicóloga Ingrid Esslinger, do Laboratório de Estudos sobre a Morte da Universidade de São Paulo (USP). A poeta americana Sylvia Plath (1932-1963) tentou se matar duas vezes antes de concretizar o suicídio (tais experiências levaram-na a escrever o romance A Redoma de Vidro). Uma das vezes foi um “acidente de carro”. Aparentemente, Sylvia perdera os sentidos no volante e deixara o carro sair da estrada e ir ao encontro de um aeródromo. Segundo o crítico literário Alfred Alvarez, amigo da poeta, a própria Sylvia admitiu que saíra intencionalmente da estrada, com o objetivo de morrer.
“Todos já pensamos em suicídio em algum momento na vida. É um pensamento humano. Se não desejamos nos matar, ao menos cogitamos morrer – morrer para escapar do sofrimento, para nos vingar, para chamar a atenção ou para ficar na história”, diz o psiquiatra e psicanalista Roosevelt Smeke Cassorla, da Sociedade Brasileira de Psicanálise, um dos maiores especialistas brasileiros em suicídio. “Mas resolvemos continuar vivos e melhorar as nossas condições de vida. O suicídio, então, soa como um desatino. A pergunta que fica é: por que algumas pessoas desistem e outras não?”
Por trás do comportamento suicida há uma combinação de fatores biológicos, emocionais, socioculturais, filosóficos e até religiosos que, embaralhados, culminam numa manifestação exacerbada contra si mesmo. Para decifrá-los, os estudiosos recorrem à “autópsia psicológica”, um procedimento que tem por finalidade reconstruir a biografia da pessoa falecida por meio de entrevistas e, assim, delinear as características psicossociais que a levaram à morte violenta.
“Existem causas imediatas predisponentes – como perda do emprego, fracasso amoroso, morte de um ente querido ou falência financeira – que agem como o último empurrão para o suicídio”, diz a psicóloga Blanca Guevara Werlang, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), especialista em autópsia psicológica. “A análise das características psicossociais do indivíduo, porém, revela os motivos que, ao longo da vida, o auxiliaram a estruturar o comportamento suicida. Pode mostrar as razões para morrer que estavam enraizadas no estilo de vida e na personalidade.”
Fenômeno complexo, o suicídio configura um assassinato, em que vítima e agressor são a mesma pessoa. “A definição de suicídio implica necessariamente um desejo consciente de morrer e a noção clara de que o ato executado pode resultar nisso. Caso contrário, é considerado morte por acidente ou negligência”, diz o psiquiatra José Manoel Bertolote, líder da Equipe de Controle de Transtornos Mentais e Cerebrais do Departamento de Saúde Mental e Toxicomanias da OMS.
O fato de estar consciente de que vai efetuar um ato suicida não elimina, no entanto, o estado de confusão mental que o indivíduo experimenta momentos antes da ação. “Ele não sabe se quer morrer ou viver, se quer dormir ou ficar acordado, fugir da dor, agredir outra pessoa ou, de fato, encontrar o mundo com o qual fantasia”, diz Roosevelt. Afinal, o suicida tem diante de si duas iniciativas complexas e contraditórias a conciliar naquele momento: tirar a vida e morrer. O suicídio ocorreria, então, num instante em que a pessoa se encontra quase fora de si, fragmentada, com os mecanismos de defesa do ego abalados e, por isso, “livre” para atacar a si mesma.
Há suicídios e suicídios. Por isso, os especialistas costumam avaliar a tentativa de se matar ou o ato propriamente dito a partir de duas variáveis: a intencionalidade e a letalidade. A primeira diz respeito à consciência e à voluntariedade no planejamento e na preparação do ato suicida. A segunda, ao grau de prejuízo físico que a pessoa se inflige. Existem casos em que o indivíduo demonstra evidente intenção de morrer e alto grau de letalidade, ao optar por um método eficiente. Em outras ocorrências, a vontade de morrer é fraca, apesar de voluntária, e o método escolhido é pouco prejudicial. Ou seja: há casos de suicidas propriamente ditos. E há casos em que a pessoa só está pedindo socorro, implorando para ser resgatada. Claro que há quem não queira enfaticamente a morte mas, por usar um meio perigoso, acabe sendo bem-sucedido.
E outros, cujo objetivo é mesmo acabar com a própria vida, por desconhecimento da maneira mais efetiva de causar danos graves a si mesmos, acabam sobrevivendo. (Aliás, esses, se não receberem tratamento adequado, são candidatos a uma nova tentativa.)
"Minha cabeça não recupera"
Dados da OMS indicam que o suicídio geralmente aparece associado a doenças mentais – sendo que a mais comum, atualmente, é a depressão, responsável por 30% dos casos relatados em todo o mundo. Estima-se que uma em cada quatro pessoas sofrerá de depressão ao longo da vida. Entre os subtipos, a depressão bipolar – em que fases de euforia e apatia profundas se alternam – parece ser a de maior risco. O alcoolismo responde por 18% dos casos de suicídio, a esquizofrenia por 14% e os transtornos de personalidade – como a personalidade limítrofe e a personalidade anti-social – por 13%. Os casos restantes são relacionados a outros diagnósticos psiquiátricos.Estudos de autópsia psicológica (feitos com base em entrevistas com amigos, familiares e médicos do suicida) mostram que mais de 90% das pessoas que se mataram no mundo tinham alguma doença mental. Entretanto, doenças psiquiátricas não são condição suficiente para o comportamento suicida, já que outros fatores – emocionais, socioculturais e filosóficos – também entram em jogo. Na verdade, essas doenças provocam uma vulnerabilidade maior ao suicídio. “É comum que a pessoa, quando está com depressão, tenha pensamentos pessimistas, ache que a vida não vale a pena e que talvez fosse melhor morrer”, diz o psiquiatra Humberto Corrêa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Mas a maioria dos deprimidos não tentará se matar. Somente os mais impulsivos e agressivos procuram o suicídio.”
Hoje, sabe-se que indivíduos com alteração no metabolismo da serotonina – um dos mensageiros químicos mais importantes do nosso cérebro – apresentam maior risco de suicídio que os demais. Em sua pesquisa sobre a genética do comportamento suicida, Humberto analisou pacientes com depressão e esquizofrenia e constatou que todos aqueles que haviam tentado se matar tinham a chamada função serotoninérgica diminuída. (Ou seja, problemas no conjunto das etapas que envolvem a participação da serotonina: sua síntese, sua ligação com os receptores celulares e seu transporte. Se há falha em alguma etapa, a atuação desse neurotransmissor se reduz.)
“Quanto maior a intencionalidade suicida e mais letal o método usado, menor a função cerebral da serotonina”, diz Humberto. O próximo passo é pesquisar que genes ligados ao funcionamento da serotonina – são mais de 20 – poderiam estar mais associados ao comportamento suicida. Diversos grupos internacionais dedicam-se a estudos desse tipo. O psiquiatra Pavel Hrdina, diretor do Laboratório de Neurofarmacologia da Universidade de Ottawa, Canadá, descobriu que pacientes depressivos portadores de uma mutação no gene responsável por codificar um dos receptores da serotonina apresentavam duas vezes mais chances de cometer suicídio que aqueles sem a mutação. “A alteração nesse gene aumenta o risco de ideação suicida e de tentativas de autodestruição em casos de depressão grave”, diz Hrdina. Os cientistas tentam agora entender a relação direta entre a serotonina e o suicídio.
“Há uma forte evidência de que a serotonina inibe o comportamento violento, agressivo e impulsivo. Mas o que sabemos sobre a ligação entre esses comportamentos e o suicídio?”, escreve a psiquiatra americana Kay Redfield Jamison, portadora de depressão bipolar, familiarizada com a ideação suicida (ela mesma já tentou se matar) e autora do livro Quando a Noite Cai. “Embora muitos pacientes tenham planos bem formulados para o suicídio, a cronometragem definitiva e a decisão final para a ação costumam ser determinadas por impulso.” Portanto, os fatores biológicos são particularmente importantes para a decisão sobre quando apertar o botão “morrer”.
A participação genética no suicídio vem sendo pesquisada desde a década de 1920. Um estudo feito na Dinamarca mostrou que os parentes biológicos de pessoas que foram adotadas quando recém-nascidas e que se suicidaram posteriormente tinham taxas de suicídio significativamente maiores que as observadas entre os parentes adotivos. Entre gêmeos idênticos, de acordo com uma pesquisa americana, a possibilidade de um irmão se matar caso o outro já tenha se suicidado gira em torno de 15%. Para os gêmeos não-idênticos, a taxa cai para 2% ou 3%.
Tal componente genético poderia explicar, em parte, os casos de suicídio numa mesma família. Filhos de pais depressivos teriam uma predisposição maior à doença. Por isso, muitos especialistas incluem os parentes de um suicida no grupo de risco. Mas, no caso de padrão familiar para o suicídio, não só a genética pode exercer influência sobre o comportamento, mas também o modelo presente naquele núcleo social. Filhos podem se inspirar na solução que pais suicidas encontraram, por exemplo, de usar a morte como saída para um conflito.
"Desculpa, não consegui"
O escritor italiano Cesare Pavese (1908-1950), 12 anos antes de se matar com barbitúricos, tinha escrito: “Ninguém nunca deixa de ter um bom motivo para o suicídio”. A angústia existencial do suicida sempre vai fornecer justificativas para a sua morte. Ele sempre poderá enxergar a vida sem sentido ou ver prevalecer em si um sentimento neurótico de desvalia, derrota e de baixa auto-estima. Daí a criação de fantasias em torno da morte. Como se trata de um fenômeno pouco entendido e também considerado tabu (leia a matéria “Morte”, na Super de fevereiro de 2002), o suicídio geralmente é recriado de acordo com as expectativas do indivíduo. O suicida não pensa, por exemplo, que vai se decompor e virar pó.“O suicídio é um ato de linguagem, de comunicação. Como vivemos numa rede de relacionamentos, a nossa morte significa algo para as outras pessoas”, diz a psicóloga Maria Luiza Dias Garcia, coordenadora da Clínica de Psicoterapia Laços, em São Paulo, que analisou mensagens (bilhetes, cartas, gravações) deixadas por suicidas no livro Suicídio – Testemunhos do Adeus. “Constatei, pelos discursos, que o suicida está num quadro de embotamento, como se estivesse afogado nas próprias emoções. Ele não aproveita os vínculos sociais para partilhar seus sentimentos e vê o mundo de uma maneira muito própria.” O suicídio, então, torna-se um meio de expressão, uma fala que não pôde ser dita.
Os especialistas costumam diferenciar as tentativas de suicídio do ato em si, uma vez que, de acordo com a intencionalidade e a letalidade, o gesto pode assumir sentidos diferentes. As tentativas de se matar são vistas como um grito por ajuda, sintoma de uma falha tanto no sistema familiar quanto no grupo social. “O indivíduo não consegue pedir socorro de outro modo, então opta por um ato extremo”, diz a psicóloga Denise Gimenez Ramos, da PUC de São Paulo. “Por que ele não foi ouvido? Todos dão conselhos, mas ninguém ouve o que ele tem a dizer. Esse indivíduo, portanto, fica com a impressão de que não existe para o mundo.”
Incapazes de comunicar a própria dor, os suicidas recorrem a algumas fantasias para justificar a si mesmos a autodestruição. A busca de uma outra vida é uma das mais comuns. O indivíduo enxerga no suicídio a oportunidade de interromper uma existência infeliz e recomeçar, com uma nova chance para acertar. Matar-se também pode ser um jeito de acelerar o reencontro com pessoas queridas já mortas – o pai, a avó, um amigo, o cônjuge. Outras fantasias comuns acerca do suicídio: gesto de vingança ou rebeldia, castigo e autopenitência. “A idéia da não-existência é tão insuportável que a mente humana inevitavelmente recorre às fantasias para levar adiante o projeto de auto-aniquilamento”, diz Roosevelt Cassorla. Mas o indivíduo nem sempre tem acesso consciente a essas fantasias.
O psicólogo Valdemar Angerami-Camon, do Centro de Psicoterapia Existencial, chefiou por quatro anos o Serviço de Atendimento aos Casos de Urgência e Suicídio da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e constatou como tais fantasias estão presentes na mente daqueles que querem se matar. “O que me impressionava eram as pessoas que tentavam suicídio dizerem que não queriam morrer”, diz Valdemar. “Como alguém tenta o suicídio e diz que não quer morrer? Na verdade, queriam acabar com uma situação de desespero. Como não conseguiam ver outra alternativa, recorriam ao suicídio. Mas, ao depararem com a possibilidade concreta da morte, percebiam que não queriam, de fato, morrer.”
O psiquiatra Claudemir Rapeli, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor de dois extensos trabalhos sobre suicídio, também constatou esse sentimento em boa parte dos suicidas que atendeu no Hospital das Clínicas de Campinas. “O arrependimento é imediato. Reconhecem que foi uma atitude impulsiva, desesperada, ansiosa.” Claudemir conta a história de um rapaz de 18 anos que tentou suicídio tomando um agrotóxico letal. (A substância provoca, em algumas semanas, uma espécie de fibrose pulmonar que impede a respiração normal e o indivíduo morre sufocado.) “Quando ele começou a sentir que não ia melhorar, que os médicos não podiam fazer mais nada, o pânico dele foi comovente”, afirma. “A motivação foi banal – uma briga com a namorada por achar que ela o estava traindo. Tomou o veneno para livrar-se da rejeição, mas não queria a morte. Ele pedia a todos os médicos que não o deixassem morrer.”
Você pode argumentar que muita gente se vê em situações de grande desespero ou solidão existencial e, mesmo assim, não busca o suicídio. O que faz a diferença? Na verdade, não existe uma personalidade suicida – existe, sim, uma vulnerabilidade emocional (que pode ser trabalhada com o apoio de um parente, um psicoterapeuta ou um amigo). “Quem tem uma estrutura de ego frágil pode não suportar uma grande perda ou um momento de crise e, num impulso, acaba cometendo o suicídio”, diz Ingrid Esslinger. O ego se constitui a partir dos primeiros vínculos afetivos, do modo com que o bebê foi cuidado pelas figuras de apego e da educação que a criança recebeu. Um ego fraco não tolera a frustração, não tem capacidade de espera, não suporta lidar com a impotência, com os limites e com os “nãos” que a vida impõe.
"O sistema mata!"
Mesmo sendo resultado de uma escolha individual, o suicídio também é visto como uma questão social. O pioneiro no estudo desse campo foi o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), com o clássico O Suicídio, de 1897. “Existem vários estudos comprovando a influência da cultura, do ambiente e da religião sobre as taxas de suicídio, seja como facilitadores, seja como limitantes”, afirma José Manoel Bertolote. Ele e a equipe do Departamento de Saúde Mental e Toxicomanias da OMS publicaram recentemente um estudo, numa revista científica norueguesa, mostrando que as taxas de suicídio mais baixas encontram-se em países islâmicos, seguidos de países hinduístas, cristãos (mais baixas em católicos que em protestantes) e budistas, nessa ordem.As taxas mais altas vêm de países “ateus”, que compunham o antigo bloco comunista: Lituânia, Letônia, Estônia, Rússia, Cuba e China. A religião aparece, portanto, como um mecanismo de “proteção” contra o comportamento suicida (todas as crenças religiosas condenam, em maior ou menor grau, o suicídio).
Combinada a outras influências, a religião pode ser também fator de estímulo para os “suicídios altruístas ou heróicos”, na definição de Durkheim. Cada membro do grupo está disposto a sacrificar a sua vida em prol das crenças. “Os casos mais recentes são os dos homens-bomba entre os palestinos e dos suicidas de 11 de setembro, relacionados a situações políticas muito específicas e à crença religiosa islâmica”, afirma Maria Cecília de Souza Minayo, doutora em Saúde Pública e professora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
Embora as mulheres sejam mais propícias a ter pensamentos suicidas que os homens, as taxas de suicídio masculino são mais elevadas. E os métodos que eles usam são mais definitivos e violentos, como uso de arma de fogo e enforcamento. Em média, ocorrem cerca de três suicídios masculinos para um feminino – com exceção de algumas regiões da Ásia, em especial na China, onde o número de mulheres que se matam supera o de homens e há mais casos no meio rural que nas cidades –, o que também contraria o padrão mundial.
Cada sociedade tem uma taxa mais ou menos constante de suicídios. No caso do Brasil, a média é de 4,5 suicídios por 100 mil habitantes nos últimos 20 anos. Número relativamente baixo, se comparado à taxa da Finlândia, por exemplo, que é de 23,4 casos em 100 mil pessoas. As taxas brasileiras de suicídio se elevam conforme a idade dos indivíduos, até atingir sua máxima expressão na faixa de 70 anos ou mais, quando chegam a 7,3 suicídios em 100 mil habitantes. Dentro de um país, o Brasil ou outro, as taxas mais altas vêm da comunidade indígena e dos imigrantes, principalmente dos núcleos que perderam muito da sua identidade cultural. Segundo a OMS, há fatores que claramente aumentam a probabilidade de suicídio no grupo social. Taxas de suicídio são altas durante épocas de recessão econômica e de forte desemprego. Também se elevam em períodos de desintegração social e instabilidade política.
“A adolescência e a velhice são os dois momentos mais propícios tanto para a ideação e as tentativas de suicídio quanto para concretização do ato, por razões diferentes”, diz Cecília. Na velhice, os motivos com freqüência se devem à depressão, a sentimentos de rejeição e abandono e à dificuldade de aceitar certas enfermidades dolorosas e incapacitantes, como o câncer. “Na adolescência, os problemas de conflito familiar, de dificuldades de identificação, os sentimentos de perda ou de inferioridade, a baixa auto-estima, em casos específicos de personalidades com tendências depressivas e de isolamento, podem se associar e resultar em tentativas ou em atos de suicídio”, afirma ela.
O cansaço existencial e as crises constantes também alimentam o desejo de morrer.
"Eu não deveria existir"
Para o filósofo e escritor argelino Albert Camus (1913-1960) só há um problema filosófico verdadeiramente sério sobre o qual o homem deve refletir: o suicídio. Segundo ele, a questão fundamental da filosofia é responder se vale a pena ou não viver. “O homem vive num clima de absurdo e pouco pode esperar da história. Esses obstáculos colocam a existência como um problema. Novamente, a pergunta se impõe: viver vale a pena?”, diz o filósofo Franklin Leopoldo e Silva, da USP. “Na perspectiva de Camus, o suicídio está sempre no horizonte do indivíduo porque a pergunta sobre a validade da vida é permanente. Isso não significa que a morte é a única solução. A saída pode ser o enfrentamento lúcido, ainda que um tanto solitário, desse clima de absurdo.”Uma reflexão filosófica mais profunda da contemporaneidade revela que a vida não é mais considerada um valor – pois, diante da moderna sociedade de consumo, perdeu gravemente o caráter sagrado – e, por isso, o suicídio também foi banalizado. Tornou-se alternativa descartável. “Já não representa mais um ato de contestação ou um ato exemplar nem parece resultado de uma dor psíquica insuportável, como foi no passado. O significado do suicídio também se perde nessa tendência ao não-pensamento que assola o mundo contemporâneo”, diz a filósofa Olgária Mattos, também da USP. A sociedade de consumo é falsamente hedonista: promete gratificação imediata e, ao mesmo tempo, frustra as próprias perspectivas que oferece. O suicídio seria também uma conseqüência dessa impulsividade: uma reação às promessas não cumpridas de felicidade e satisfação instantâneas e à decepção que daí decorre. “O suicídio, hoje, vem da dificuldade de entrar em contato consigo mesmo.
O autoconhecimento dá trabalho, exige empenho e tolerância à frustração”, diz Olgária.
A pergunta fundamental de Camus continua a nos martelar. “O suicídio agride porque nos diz o tempo inteiro da nossa possibilidade de escolha. Porque, se o outro faz isso, eu também posso ter essa escolha. Porque eu terei de me haver com o meu próprio potencial suicida, ou com o meu próprio desejo de morte”, diz Ingrid Esslinger.
Levado às últimas conseqüências, o suicídio também pode parecer um ato de afronta a Deus. “Tirar a própria vida dá, ao indivíduo, a sensação de fazer algo que é divino e entrar em contato com o mistério”, afirma Denise Ramos. “O suicida passa da extrema impotência – não posso mudar nada – à extrema potência – acabo com a minha vida quando e como eu quero. Nesse momento, em sua fantasia, se iguala a Deus por provocar também um ato que vai além da natureza humana.”
Para o teólogo e filósofo Renold Blank, da Pontifícia Faculdade de Teologia de São Paulo, tal atitude de achar-se o único responsável pela própria vida ultrapassa os limites éticos. “Do ponto de vista ético, a vida de cada ser humano tem sentido não só para si mesmo mas para os outros também”, diz ele. “Por meio da minha vida, dou sentido à vida dos outros e, assim, a minha existência ganha significado. Se acabo com a minha vida, acabo com todas as possibilidades de dar sentido à vida de outras pessoas. Falho em minha responsabilidade com os demais.” As ações de cada indivíduo repercutem no grande sistema de relações sociais e ganham uma dimensão histórica – o que é feito hoje, mesmo em âmbito pessoal, tem sempre uma conseqüência futura. O suicídio funciona, então, como uma brusca ruptura dessa rede.
“O suicídio é um ato privado que não representa somente uma violência contra si mesmo mas também contra mais, pelo menos, seis pessoas. Elas são forçadas a conviver com os sentimentos de vingança, vergonha, culpa, sofrimento psicológico, medo de enlouquecer e de também cometer o suicídio”, afirma o suicidologista australiano Diego De Leo, diretor da Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP, na sigla em inglês), organização não-governamental que reúne profissionais e entidades envolvidas no estudo do comportamento suicida.
"Sei que voceis me perdoarão"
Para enfrentar o problema, a OMS lançou, em 1999, o SUPRE, um programa mundial para a prevenção do suicídio. O objetivo é reduzir as taxas de mortalidade de “violência autodirigida”, acabar com o preconceito em relação ao tema e prestar assistência técnica aos países para a formulação de políticas públicas e programas de prevenção. As diretrizes se baseiam no tratamento adequado das doenças mentais, na criação de campanhas educativas e de estratégias, como reduzir o acesso a instrumentos de autodestruição – armas de fogo e venenos agrícolas, por exemplo. Na mesma época, a OMS criou o SUPRE-MISS, um projeto conduzido em oito países a fim de identificar fatores de risco para o suicídio e métodos eficazes para diminuir as tentativas de tirar a própria vida. A representante brasileira nesse estudo é a Unicamp.No núcleo familiar e comunitário, a melhor prevenção é falar sem temores sobre suicídio e saber identificar os pedidos de socorro das pessoas próximas. “Ninguém precisa dar uma solução para os problemas do outro, deve apenas aprender a ouvir. As pessoas encontram as soluções dentro de si quando conversam e refletem sobre seus conflitos e emoções”, diz Denise.
Apostando nessa fórmula, existe o serviço de prevenção ao suicídio do Centro de Valorização da Vida (CVV), uma entidade não-governamental de atendimento humanitário criada há 40 anos e presente em todo o Brasil. O CVV segue os moldes dos Samaritanos, de Londres, uma entidade fundada no início dos anos 1950 para atender pessoas angustiadas que precisavam de apoio psicológico. Todos os voluntários são treinados para ouvir seus interlocutores (por telefone, carta, e-mail ou pessoalmente) sem nenhum tipo de julgamento e respeitar sua decisão, mesmo que seja a de cometer o suicídio. “Respeitamos o sofrimento de quem nos telefona. Ele tem a liberdade de falar sobre o que quiser durante o tempo que for necessário”, conta Adriana, voluntária do Posto da Vila Carrão, em São Paulo, e assessora de comunicação do CVV. “Estamos disponíveis para ouvir o que cada um tem a dizer sobre seus medos, dificuldades e angústias e ajudar a revalorizar a própria vida.”
O serviço atende, em média, 1 milhão de ligações por ano. Isso revela a necessidade que as pessoas têm de falar sobre seus conflitos. Quando o assunto é suicídio, abrir-se pode ser terapêutico.
A experiência do CVV, dos Samaritanos e de outros programas semelhantes demonstra que o primeiro passo para evitar o suicídio está no resgate do sentido da existência. “O que motiva o suicida é a falsa idéia de que sua vida não tem mais valor nem para si mesmo nem para os outros”, diz Renold Blank. O verdadeiro desafio parece fazer com que as pessoas percebam que sempre existe saída, não importa a situação. Que há como se reinventar e trabalhar em si mesmo aspectos de que gosta menos. Que nossa vida é importante para os outros também. E que sempre há alternativa, mesmo que, a princípio, seja dolorida. Afinal, a única coisa para a qual não há remédio é a morte.
Os intertítulos e os bilhetes desta reportagem são de mensagens de pessoas que se suicidaram.
"Tive medo de ser o próximo"
“Era de manhã quando recebi o telefonema avisando que meu irmão tinha se suicidado. Enforcou-se. Levei um susto muito grande, foi um choque. No caminho até minha casa, senti vergonha por ser da família de um suicida. Tenho três tias velhinhas, que são de uma geração em que o suicídio era ainda mais estigmatizado – e disse a elas que devíamos contar para todos que o meu irmão havia se suicidado. Preferi não ocultar. O gesto dele me trouxe uma sensação dolorida de que também poderia acontecer comigo. Tive medo de ser o próximo. Fiquei muito assustado. Venho de um núcleo de morte – minha mãe morreu jovem, de câncer, quando eu era criança, e meu pai sofreu um infarto agudo há alguns anos. Não acredito que tenham sido mortes naturais, talvez eles quisessem mesmo morrer.Me senti muito culpado, foi inevitável. Pensei que talvez pudesse ter feito alguma coisa. O suicídio é uma violência muito grande. Parece uma bomba, uma explosão. Era meu irmão mais velho. Acho que ele nunca desejou alguma coisa com empenho. Tudo, para ele, tanto fazia, qualquer coisa estava bem. Era uma situação crônica. Ele entrou em várias faculdades e não terminou de cursar nenhuma. Tentou vários empregos, mas saiu de todos eles. Foi casado, separou-se, tinha uma namorada. Aparentemente sua vida estava estruturada. E ele não era depressivo. Talvez não estivesse vendo perspectivas. As razões do suicídio são um mistério. Pensei muito em quais teriam sido os motivos. Só relaxei quando assumi que não podia entendê-los. No enterro, senti uma raiva muito, muito grande. Naquele instante, experimentei uma profunda sensação de abandono. Nunca tinha sentido isso antes. Meu irmão foi enterrado no mesmo túmulo onde já estavam os meus pais.
Fiquei sozinho. Tenho muita vontade de viver. Acho que é uma espécie de resistência – gosto de festas, brigo pela vida, vivo intensamente, tenho amigos, curto meu trabalho, sou afetivo... Sempre fui assim, mas o suicídio me fez ver de maneira mais consciente que a vida é uma só. Não sou nada religioso, mas acho que todos nascemos para ser felizes, para desfrutar.
Pensei muito nisso, logo depois do suicídio. Um dia, fiquei parado uns 15 minutos diante de uma avenida onde os carros vinham em alta velocidade e não havia faixa de pedestres. Era só um passo, tão fácil, e tudo se acabaria. Depois, ao visitar um novo apartamento, também contemplei a janela demoradamente... Num ato poderia resolver tudo, todos os meus problemas. Mas prefiro os meios mais difíceis. Não acredito em outra maneira.”
E.S., médico e professor universitário, 45 anos
Para saber mais
NA LIVRARIA
Quando a Noite Cai – Entendendo o SuicídioKay Redfield Jamison. Gryphus, Rio de Janeiro, 2002
Suicídio, Testemunhos do Adeus
Maria Luiza Dias. Brasiliense, São Paulo, 1991
O Deus Selvagem – Um Estudo do Suicídio
A. Alvarez. Companhia das Letras, São Paulo, 1999
O Que é Suicídio
Roosevelt M.S. Cassorla. Brasiliense, São Paulo, 1985
Do Suicídio – Estudos Brasileiros
Roosevelt M.S. Cassorla (org.). Papirus, Campinas, 1998
Suicide and the Unconscious
Antoon Leenaars and David Lesters (ed.).
Jason Aroson, Estados Unidos, 1996
Dicionário de Suicidas Ilustres
J. Toledo. Record, Rio de Janeiro, 1999
O Suicídio: Um Estudo Sociológico
Émile Durkheim. Zahar, Rio de Janeiro, 1982
NA INTERNET
www.cvv.org.brwww.who.int/mental_health
Ainda que se mantinha uma surpreendente lucidez, Clara sentia-se completamente desolada, perdida em uma sociedade suicída e de tanto não mais aguentar o seu sofrimento sozinha preferiu assim a morte. Clara tomou calmantes e em seguida se enforcou.
Nó de forca
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Nó utilizado muitas vezes na história para enforcamentos. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o enforcamento com o uso deste nó tem como objetivo o destroncamento da coluna cervical e, por conseguinte, a ruptura de seu sistema nervoso e não o simples estrangulamento. A parte rígida deste nó, composto normalmente por 7 espiras apertadas em torno da própria corda, serve como alavanca, promovendo uma morte indolor e evitando que esta ocorra pelo sufocamento do condenado. No momento da execução, esta "haste" deve estar posicionada no pescoço do condenado, próximo a glote de forma que sua outra extremidade seja apontada em direção ao solo. Desta forma, no momento da queda, o nó tende a girar para cima, em direção a nuca do condenado, promovendo a torção necessária para que a execução ocorra com sucesso.
[editar] Ver também
“(...) o último tipo de loucura: a da paixão desesperada. O amor decepcionado em seu excesso, sobretudo o amor enganado pela fatalidade da morte, não tem outra saída a não ser a demência. Enquanto tinha um objeto, o amor louco era mais amor que loucura; abandonado a si mesmo, persegue a si próprio no vazio do delírio. (...)
Se leva à morte, trata-se de uma morte onde aqueles que se amam não serão nunca mais separados. É a última canção de Ofélia.”
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Fome levou indígenas mexicanos ao suicídio em 2011
Apenas "quem não conhece a idiossincrasia (dos indígenas rarámuris) poderia acreditar em semelhante versão.
Cidade do México - Cerca de 50 indígenas rarámuris se suicidaram em dezembro de 2011 na Serra Tarahumara do México pelo desespero de não poder alimentar seus filhos, disse no domingo Ramón Gardea, do sindicato Frente Organizada de Camponeses, embora o governo local tenha desmentido esta informação.
"As mulheres indígenas quando ficam quatro ou cinco dias sem poder dar comida aos seus filhos ficam tristes, e é tanta tristeza que até o dia 10 de dezembro (2011) 50 homens e mulheres, pensando que não têm nada para dar para seus filhos, se jogaram do barranco", disse Gardea a uma rede de televisão do estado de Chihuahua (norte), onde se localiza a serra Tarahumara.
Diante da falta de alimentos, os indígenas "se jogam do barranco, outros se enforcam", insistiu Gardea.
O líder camponês não informou quando foi registrado o primeiro suicídio dos indígenas, que têm como principais atividades econômicas a agricultura, a caça a manufatura de cestos, além da exploração florestal.
No entanto, o governo de Chihuahua desmentiu em um comunicado a informação sobre os suicídios.
Apenas "quem não conhece a idiossincrasia (dos indígenas rarámuris) poderia acreditar em semelhante versão. Sua formação na dureza da serra os faz homens e mulheres com um temperamento a toda prova", sustentou o governo.
"As mulheres indígenas quando ficam quatro ou cinco dias sem poder dar comida aos seus filhos ficam tristes, e é tanta tristeza que até o dia 10 de dezembro (2011) 50 homens e mulheres, pensando que não têm nada para dar para seus filhos, se jogaram do barranco", disse Gardea a uma rede de televisão do estado de Chihuahua (norte), onde se localiza a serra Tarahumara.
Diante da falta de alimentos, os indígenas "se jogam do barranco, outros se enforcam", insistiu Gardea.
O líder camponês não informou quando foi registrado o primeiro suicídio dos indígenas, que têm como principais atividades econômicas a agricultura, a caça a manufatura de cestos, além da exploração florestal.
No entanto, o governo de Chihuahua desmentiu em um comunicado a informação sobre os suicídios.
Apenas "quem não conhece a idiossincrasia (dos indígenas rarámuris) poderia acreditar em semelhante versão. Sua formação na dureza da serra os faz homens e mulheres com um temperamento a toda prova", sustentou o governo.
Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!
Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...
A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...
Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...
Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.
Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?
Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?
És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?
Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?
Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!
Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...
A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...
Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...
Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.
Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?
Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?
És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?
Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?
Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...
Álvaro de Campos
in "Poemas"
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Heterónimo de Fernando Pessoa
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